Um "cadinho" de mim

São Luís, Maranhão, Brazil
Rita Luna Moraes Assistente Social e Bacharel em Direito. Servidora pública federal aposentada.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Carta a minha amiga Zaira: uma despedida e um novo caminhar

(enviada por e-mail, entregue pessoalmente e
disponível em: www.ritalunamoraes.blogspot.com
e link no www.facebook.com)
Querida,

Nestes tempos últimos, tenho experimentado uma revisita às memórias mais profundas que fizeram/fazem parte de minha trajetória pessoal e profissional.

E, envolvida em velhas memórias e novos desafios, decido adotar outro caminho profissional e, por extensão, também outro caminho pessoal (ou o contrário como quisermos entender), e compartilho contigo esta “viagem” ou, mais adequadamente, esta travessia.

Valho-me do nosso histórico “Encontro” de Assistentes Sociais, anual e ininterruptamente realizado há 32 anos, para despedir-me desta profissão, a que tenho a honra de pertencer desde que ingressei, em 1980, no Curso de Serviço Social da UFMA. Sempre comemorando o nosso Dia – 15 de maio!

Registro que escolhi, intuitiva e emocionalmente, este momento do Encontro para dar início ao “meu processo de transformação profissional” (como tudo em nós é um processo...), com a simbologia própria de quem não tem receio de olhar para trás. Fazemos sempre isso em nossos Encontros: análises e re/definição de rumos.

Minha análise primeira indica que, podes ter absoluta certeza, eu faria tudo de novo ou como na música, “começaria tudo outra vez”. Especialmente, se soubesse que, neste caminho, encontraria pessoas tão imensamente humanas, como amigos, professores, servidores e profissionais, com quem tive a especial felicidade de conviver.

(Agora, enquanto escrevo, ouço em meu netbookAquarius” e “Let The Sunshine In”, do célebre musical “Hair”. Muito inspirador. Sem prévia escolha, acionei meu arquivo e deixei tocar. Ouve a letra: “Este é o começo da época de aquário. Então a paz guiará os planetas. E o amor dirigirá as estrelas.” “Deixe o brilho do sol entrar.”)

Sob essa inspiração, é emocionante recordar nosso “grupo de estudos” e, depois, de militância estudantil no Curso, que nos uniu pra vida toda: Farrita (tua irmã), Helena, Ione, tu e eu. Encontrei, recentemente, ao mudar de residência, uma foto de parte de nossa turma, na qual estão vocês. Impossível não sentir saudades... Da que está perto (tu), das que estão longe (Farrita e Helena, em Rondônia) e daquela que já não sorri mais pra nós (Ione)!

Quantos fins-de-semana em tua casa, no Turu (na república de Parnaíba), estudando e debatendo os textos de Gramsci. Não bastasse a já presente complexidade gramsciana, Farrita sempre questionava o que não sabíamos responder e tu dizias: “Lá vem ela querendo saber por que o céu é azul...“ Ríamos muito, e ela não deixava a gente avançar, enquanto não tivéssemos, pelo menos, um “esboço” de resposta, para perguntar e debater depois com os Professores.

Ao falar em Professores, inicio rendendo minha homenagem à Irmã Joelina, como representação da antiga geração de mestres do nosso cinquentenário Curso. Impossível não lembrar, além dos ensinamentos próprios da profissão, o seu engajamento aos novos tempos com a liberação da Casa das Irmãs, no Largo dos Amores, para as reuniões pré-sindicais e estudantis e o total apoio a nossa organização como categoria profissional.

(Igualmente impossível esquecer sua interpelação à Ione (que adorava saias curtas), no corredor do Pimentão, se não havia dinheiro para comprar o restante do tecido... Com o tempo, até ela (a Irmã) achava engraçado – havia um sorriso docemente cúmplice.)

Da geração “Congresso da Virada e Movimento de Reconceituação”, tão caros a todas nós, penso que concordamos na referência à Professora Josefa, que desde ontem e até hoje marca nossa caminhada. Muitos, como eu, sempre nos sentimos bem representadas por sua existência pessoal, política e profissional, até quando discordamos nas “análises de conjuntura”.

Ainda lembrando os mestres – esses seres tão fundamentais em nossas vidas, desde criança -já na metade do Curso, pudemos contar com aqueles que voltavam do Mestrado, com leituras serenas e ao mesmo tempo instigantes da teoria e da prática profissionais. Homenageio a Professora Nonata, que nas aulas de “Questões Urbanas”, no antigo ILA, também no Largo dos Amores, contribuiu para que nossa veia investigativa aflorasse, nas pesquisas iniciais sobre a realidade da ocupação do espaço urbano pelas populações empobrecidas.

Dos servidores, homenageio em nome de todos,  a Raimundinha, Secretária da Coordenação, que vivia resolvendo nossos problemas (aluno dá trabalho, reconheçamos) e o Zé Raimundo, Administrativo, sempre alegre, com quem conviveria anos mais tarde, extra-UFMA, que morreu precocemente, sem que me permitisse vê-lo doente. Mais saudades!

Ingressei, profissionalmente, na área de Saúde, no ano seguinte à conclusão do Curso e merece destaque minha primeira Chefe – Dilma Beckman – no Hospital Materno Infantil. Um exemplo de firmeza e doçura!

(Neste instante, toca “Adágio”, de Albinoni, uma das músicas mais lindas que conheço. Embora muitos a vejam como “fúnebre”, considero-a uma celebração, talvez porque busco uma visão serena tanto da morte como da vida... Música própria ao falar de firmeza e doçura.)

Exerci, profissionalmente, o que me foi apresentado: execução, supervisão de profissionais e de estágio e coordenação de equipe. Transitei, ainda, por planejamento e orçamento e, mais recentemente, contribuí, também, na área de Assistência Social, aqui lembrando Margarete Cutrim, com quem, sob sua chefia, aprendi muito sobre gestão de políticas públicas.

Muitos professores e profissionais sempre me questionaram por que não ingressei na carreira do magistério superior. Desde a criação do Mestrado de Políticas Públicas, igualmente me perguntam quando vou fazê-lo. Antes de responder, faço o necessário registro da importância da Professora Ozanira para sua existência e excelência, agora incluído o Doutorado, ambos reconhecidos pela comunidade científica e referência em nosso Estado.

Relembro quando nos encontramos, àquela época, ela, como Coordenadora do Curso e nós, como representantes estudantis, em que, muitas vezes, havia interesses (ou visões e posições) discordantes, celebrados com a melhor das veemências.

Da militância estudantil no Curso, Celecina (hoje Professora), Presidente do Diretório Acadêmico pós-ditadura, e na Universidade, com o grupo “Guarnicê”, lembrado em Chico Gonçalves (também Professor), bem representam os bons tempos de “boa luta” pelos direitos democráticos e da educação de qualidade.

(Recentemente, nos velórios de familiares nossos, no mesmo dia e local, disse-me Chico que andava com “saudade das velhas amizades” e combinamos de celebrar outros encontros. Estou que nem ele...)

Para a militância sindical e partidária foi um pulo, nem um salto, pois àquela época era quase uma decorrência natural: no Sindicato e Conselho Profissional e, depois, no dos Previdenciários, integrando a CUT e o PT (de antes, bem explicado, não o de agora...). Toda essa experiência serve-me até hoje como farol a iluminar meus erros e acertos, do presente e do futuro.

Zaira querida, no tempo em que se aproximavam o Dia do Assistente Social e a realização deste Encontro, as lembranças ficaram mais profundas e, em meio à análise e re/definição de rumos que ora faço, digo-te que traço um novo caminhar, sem dúvida, sedimentado nas melhores experiências até aqui vivenciadas e compartilhadas na bondosa companhia dos que aqui homenageei, representativos dos tantos quantos comigo trilharam.

Concluirei o Curso de Direito e, no próximo Encontro, em 2012, ano especialmente simbólico pra mim, já não mais serei tão-somente Assistente Social. Buscarei novos desafios de exercício profissional e, como sempre, determinada a continuar pautando minha vida (pessoal e profissional) nos princípios e práticas ético-políticas emancipatórias (parafraseando o tema deste Encontro), aprendidos no Serviço Social e reafirmados no Direito.

Tive a honra de neste novo Curso e Profissão, contar com a convivência de “outro grupo de estudos”, ao qual denominamos “Diretoria”, também entusiasta do bom debate e da cultura da boa cerveja – originalmente, Cassas, Thyssia (que me lembra a Farrita, de tanto que questiona...), Gilberto, Augusto, Socorro, Washington e Cláudio. Também aqui fui representante de turma e ativa defensora dos direitos acadêmicos, igualmente, com bons embates e algumas conquistas junto à Coordenação de Curso.

Como nós do primeiro grupo, também firmamos amizade pra vida toda. Que privilégio tenho eu de poder viver esses laços afetivos e profissionais, já por duas vezes na mesma vida.

No início deste ano, motivada por muitos desses amigos, do Serviço Social e do Direito, inaugurei na internet “um espaço plural, despretensioso, prazeroso e cheio de luz!” para “compartilhar ideias e homenagear amigos” – o blogue Cartas: Pensamentos e Dicas (www.ritalunamoraes.blogspot.com), no qual publico o que penso, apresento dicas de cultura, faço militância política (ativismo on line) e debato comportamentos e divulgo as Cartas dirigidas aos amigos, mas de que me aproprio para falar a todos.

Esta semana, inseri a seção “Carpe Diem”, em tradução livre “Aproveite o dia!”, no início da página, onde expressarei uma ideia-base que me norteia. A deste momento: Se virmos cada dia, não como o último, mas, sempre, como se o primeiro fosse de nossas vidas, certamente, aproveitaríamos melhor cada vida!”

Como disse, apenas inicio o processo de transformação em meu exercício profissional, em um novo universo singular e plural. Como o primeiro dia do resto de minha vida, quis que tu estivesses presente, simbolizando todos que me fazem ser o que sou e me inspiram a aproveitar melhor cada vida.

Um beijo carinhoso,

Tua amiga Rita.






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